5 de março de 2015

António Pereira - "O Presidente começou a querer protagonismo"

António Pereira deixou o comando técnico do Gulpilhares na passada semana, tendo já sido substituído por Ernesto Faria, que se estreou na visita ao terreno do Leça do Balio com uma derrota por 4-3. 
Na altura da saída o técnico remeteu mais para a frente os motivos que o levaram a tomar essa decisão e, por parte do clube, o presidente Rui Silva afirmou tratarem-se motivos do foro interno. 
Agora, António Pereira explica em primeira mão ao 'A Bola é Redonda' os motivos que o levaram a deixar o comando técnico das 'raposas', numa altura em que liderava a Série 1 da 1ª Distrital com mais nove pontos que o segundo classificado. Rui Silva, presidente do clube, é o principal visado nas palavras do técnico gaiense, numa polémica que promete continuar por mais algum tempo.

António Pereira (ao centro) abriu o lívro sobre a sua saída do Gulpilhares
e Rui Silva é a personagem principal

A Bola é Redonda (ABR) - Mister o que motivou a sua saída do Gulpilhares, uma vez que ia em primeiro e com larga vantagem para os adversários mais directos?

António Pereira (AP) - O motivo da saída deve-se essencialmente ás faltas de condições humanas por parte do Presidente do clube. A paixão e o respeito que temos pelo futebol não pactua com atitudes menos correctas, mormente ao nível da educação, respeito, dignidade, verdade e consideração que sentimos, nós e atletas, por parte desse senhor. O copo transbordou na jornada caseira com o Mocidade Sangemil, quando fomos tratados como autênticos bonecos, presenciado por atletas e directores do clube. Assim sendo, não tínhamos mais condições de continuar o excelente trabalho, reconhecido por todos os adversários, sócios e adeptos do clube, que vínhamos a efectuar desde o dia 25 de Agosto de 2014, aquando do inicio da época. Aos  olhos de algumas pessoas poderá parecer estranho este bater de porta por parte da equipa técnica, isto atendendo á excelente campanha que estávamos a fazer, senão vejamos: Reestruturamos o plantel com atletas de enorme qualidade desportiva, aliada a uma grande ambição, carácter como homens, bases fundamentais para atacarmos a subida de divisão, objectivo proposto pelo Presidente do Gulpilhares e tudo isto, reduzindo significativamente o orçamento do clube em relação a anos anteriores.

ABR - Como programaram a época com essa redução orçamental?

AP - Iniciamos um trabalho exaustivo de scouting relativamente ás equipas que iríamos defrontar e traçamos um plano de trabalho que nos iria levar á subida de divisão. Este trabalho efectuado foi coroado com a excelente campanha que vínhamos a fazer, nomeadamente desde a primeira jornada até á nossa saída pela 20ª jornada: Primeiro classificado com diferença pontual média da ordem dos nove pontos para o segundo classificado, melhor ataque, melhor defesa, isto em termos colectivos porque em termos individuais também liderávamos com os nossos atletas. Tudo isto aliado a uma excelente campanha na taça Brali, com apuramento 100% vitorioso, sucumbindo apenas em Baião, nas grandes penalidades, onde saímos de cabeça erguida e parabenizados por todos os atletas, treinadores, directores e adeptos da equipa de Baião.

ABR - Mas então...

AP - Então nem tudo foi pacifico. Isto porque o Presidente começou a querer protagonismo, com base no quero, posso e mando, bem como 'não é como vocês querem, é como tem de ser'. Desde corte de ordenados por faltas justificadas por lesão ao serviço do clube, corte de prémios assumidos, organização e logística na saída para os jogos, má educação no trato com os atletas, etc. Em que a situação mais grave foi na 11ª jornada, em Pedroso, onde perdemos pela primeira vez, e em que este senhor, no final do jogo, entra no balneário maltratando tudo e todos, dando pontapés no que aparecia pela frente, como material do clube, ameaçando - e cumpriu - que não haveria prémio no jogo seguinte.
A equipa técnica, a partir daqui, para além do trabalho desportivo teve um acréscimo de trabalho no capitulo psicológico dos atletas, no sentido de dar continuidade a este trajecto. Era constante o mal-estar patente e presenciado sempre pelos excelentes directores do futebol, o Paulo Barbedo e o Fernando Santos, que nos pediam paciência e que continuássemos da mesma forma. Assim fizemos até á 20ª jornada, em que este senhor nos faltou ao respeito, sem educação e consideração. Posto isto estava colocado o ponto final nesta relação.


ABR - Existia algum tipo de desavença com a Direcção do clube?

AP - Com a direcção não havia qualquer tipo de desavença, aliás, eu e os meus adjuntos, o Nuno Soutelo e o Pedro Vilas Boas, sempre fomos acarinhados e incentivados pelos directores de todas as camadas a prosseguir com este projecto. Agora, com esse senhor, é impossível. Note-se que não é de agora mas sim de há uns anos a esta parte. Eu recordo Alfredo Mendes, Alexandre Coutinho, do qual fui adjunto e em que subimos á Divisão de Honra, José Manuel Ribeiro e agora nós, em que sempre patenteamos qualidade de trabalho, mas esse senhor nunca. Todos saímos pelas condições humanas desse senhor.


ABR - Mas é só no futebol sénior que isto se verifica?

AP - Não, de maneira nenhuma. Ainda recentemente fez bandeira que o futuro passa pela formação mas os actos e as atitudes não o demonstram, senão vejamos: Em 90% das camadas jovens, os treinadores foram embora por não terem condições humanas de trabalho por parte do presidente. Isto agregado a pais dos atletas descontentes, o trato humano com os atletas, directores que se demitem, etc. Formação que estava a dar frutos, pelo excelente trabalho efectuado pelo coordenador do futebol formação, em que é constantemente desautorizado e em que lhe corta o projecto top e perfeito a que deu inicio.


ABR - Saíram então com alguma mágoa?

AP- É um misto de mágoa e alivio. Mágoa porque deixamos um balneário forte, unido e coeso, como uma família do qual tivemos toda a responsabilidade de o formar. Mágoa, porque não conseguimos dar seguimento ao alavancar do Gulpilhares, e da sua freguesia que tudo faz pelo seu clube representativo, para patamares mais elevados. Mágoa, porque deixamos amigos, sócios, adeptos e simpatizantes do clube, que sempre nos acarinharam e incentivaram para engrandecer o Gulpilhares. Mas um elevado alívio quando sabemos que não temos que lidar com faltas de respeito, educação e saber estar, somado a uma grande dose de falsidade, hipocrisia, conflituosidade, etc, por parte desse senhor pseudopresidente.


ABR - Mas sai também, concerteza, agradecido...

AP - Concerteza que sim. A todos os directores do clube, sócios e adeptos, aos excelentes homens e atletas que tive o privilégio de liderar e, mesmo apesar de saber o que sentem, sei que tudo vão fazer para que sejam como já o são, uns verdadeiros Campeões. Por último aos meus adjuntos, verdadeiros amigos e companheiros, que ajudaram e partilharam comigo, bem como os atletas, uma fase menos positiva na minha vida pessoal. Com sentimento de pena de não lhes poder proporcionar, neste primeiro ano como treinadores, a alegria de levar a bom final esta época, mas com a certeza de que o futuro será risonho para nós, pautando sempre pelos nossos princípios dos quais não abdicamos nunca.

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