Esta semana estão de volta as entrevistas ao 'A Bola é Redonda' e logo com um entrevistado de peso. Tozé, ex-treinador do Candal e que levou a equipa de volta à 3ª Nacional 27 anos depois da primeira e única participação na já longínqua temporada de 1981/1982. O ano passado, mais ou menos por esta altura, causou alguma surpresa a notícia da saída do treinador do clube, sendo substituído por Eduardo Luís, que posteriormente também deu o seu lugar a Guilherme Baldaia, que também já deixou o clube, devido a motivos profissionais. Ao longo da entrevista, Tozé aborda o momento da sua saída, bem como o bom momento do Coimbrões, assim como também o sufoco por que passam dois dos clubes gaienses que o treinador representou enquanto jogador. Frontal como sempre, Tozé pouco ou nada deixa por dizer, em mais este exclusivo do 'A Bola é Redonda'.
A Bola é Redonda (ABR) - Tozé, já há algum tempo que não se ouve falar de ti. Que tens feito desde que deixaste o Candal?
Tozé - Aproveitei para tirar o curso de II nível de treinador, dedicar mais tempo àqueles que me são próximos depois de 25 anos seguidos em que o futebol foi uma constante no dia a dia. Dediquei também mais tempo à minha vida profissional, mas estive sempre atento a tudo que se passa no futebol.
ABR - Certamente tens acompanhado o futebol gaiense. Como viste a carreira das equipas que representaram o Concelho na 3ª Nacional?
Tozé - Tive oportunidade de ver alguns jogos das equipas Gaienses. O Coimbrões foi sem duvida a equipa mais forte e subiu com todo o mérito. As outras equipas eram todas muito equilibradas, o Candal fez um bom campeonato e o Oliveira do Douro ficou muito aquém das expectativas.
ABR - O Coimbrões alcançou a promoção à 2ª B, apenas duas épocas depois de se estrear nos Nacionais. Que comentário merece a equipa de Rui França?
Tozé - Acho que foi sem dúvida alguma a melhor equipa. Muito mérito da sua direcção, dos seus jogadores e do seu treinador, como acontece na maioria dos casos em que se consegue subir de divisão. Acho mesmo que o Coimbrões e neste momento um bom exemplo para os outros clubes Gaienses, dado que consegue com um baixo orçamento manter todos os anos a grande maioria dos jogadores. E porque? porque são acompanhados, acarinhados, sentem-se bem no clube e por isso mesmo, tendo propostas superiores e de divisões superiores, preferem continuar ali. Se calhar quando outros clubes se interrogam pelo facto de não conseguirem manter os seus jogadores época após época, deveriam olhar mais para este exemplo, ou alguém acredita que jogadores jovens como o Pedrinho, o Fábio Martins, o Joel ou o Igor não tem recebido propostas para sair ao longo destes dois ou três anos que estão no clube. Claro que tem, mas ficam porque são bem tratados.
ABR - O Candal por pouco não acompanhava os vizinhos de Coimbrões. Ficaste surpreendido pela carreira da equipa ou era algo que já esperavas?
Tozé - O Candal fez uma boa época, conseguiram ate final lutar pela subida de divisão. Foi uma equipa que se baseava mais na qualidade individual de alguns jogadores que iam desequilibrando neste ou naquele jogo, o que disfarçava algumas carências colectivas que a equipa apresentava. Não tenho duvidas nenhumas que com a base da equipa que subiu de divisão e com mais dois ou três reforços o Candal teria disputado não só a subida, como também o 1º lugar com o Coimbrões.
ABR - Ainda dentro do Candal. Numa das últimas vezes que falamos, disseste-me que "um dia mais tarde as pessoas irão saber porque sai do Candal". Porque saíste do Candal depois de subir a equipa à 3ª Nacional?
Tozé - Acho que sobre isso muita coisa foi dita, principalmente muitas coisas que não correspondem a verdade. Quem me conhece sabe perfeitamente que nunca deixaria o Candal por dinheiro, alias eu aceitei reduzir o ordenado, abdiquei dos dois meses que o clube devia quando acabou a época, e não quero esse dinheiro. Acabamos por entrar em desacordo quando os dirigentes, apesar destas situações, não chegaram a acordo com o preparador físico por uma verba muito reduzida, nem com praticamente nenhum dos jogadores que eu pretendia que continuasse na nova época, aliando isso ao facto de também não terem cumprido com aqueles que deram tudo pelo clube depois de terem prometido que o fariam. Há realmente pessoas que não compreendem, mesmo com estas situações o porque de eu ter deixado o clube, mas a minha vida foi sempre orientada por princípios que para mim são fundamentais e mesmo que estes me levem a estar fora do futebol por muito tempo, vou segui-los ate ao fim.
ABR - Indo para outras divisões. O Dragões Sandinenses desceu à 1ª Distrital. Tendo tu jogado lá, como vês o momento actual da equipa?
Tozé - Era o ultimo clube que eu diria que ia cair numa situação destas. Foi sempre um clube de gente muito séria ate que chegou alguém que provavelmente colocou os interesses pessoais a frente dos do clube e deu nisto.
ABR - Outro clube emblemático para ti, o Vilanovense. Depois de na época anterior a equipa não ter competido, este ano está a um passo de regressar. Que comentário te merece?
Tozé - Foi para mim uma grande honra ter sido capitão desse clube durante alguns anos. Acho que o facto de as camadas jovens voltarem a jogar no Soares dos Reis vai dinamizar a vida do clube. Acredito que aprenderam com os erros cometidos e que o 'Vila' vai voltar a ser forte.
ABR - Voltaste a jogar futebol na equipa das Velhas Guardas do FC Afurada. Como surgiu essa hipótese?
Tozé - Foi unicamente por amizade a algumas pessoas que estavam na equipa e achei piada e embora eu leve a situação mais na desportiva, há quem a leve muito a serio.
ABR - Voltando aos 'bancos'. Não tens recebido nenhum convite para voltar a treinar um clube?
Tozé - Tem surgido algumas hipóteses desde que deixei o Candal. Ainda recentemente tive dois convites para voltar a treinar esta época, mas apesar da consideração que tenho por esses clubes acho que não devo aceitar uma proposta se não me sentir totalmente motivado e disponível a 100% para um projecto, seja ele qual for. Não e uma questão de divisão nem de dinheiro, mas sim de ter ou não condições para atingir um objectivo.
ABR - Para quando está marcado o teu regresso ao futebol?
Tozé - Assim que surja o convite certo, independentemente da divisão. O mais importante de tudo é que haja seriedade e que acreditem em mim, o resto vira por acréscimo.
ABR - Este ano recebeste o prémio referente ao 'Melhor Treinador' do Jornal O Gaiense. Como te sentiste?
Tozé - Não dou grande importância a essas coisas. O maior prémio que tenho referente a época que subimos é o reconhecimento de todos os jogadores que liderei e da massa associativa do clube que representei. O resto diz-me pouco.
ABR - Esse prémio não fez aumentar as saudades e a vontade de regressar ao futebol e aos bancos?
Tozé - Reconheço que tenho saudades e vontade de regressar. O futebol é o meu mundo e foram 25 anos seguidos, o facto de ter subido no primeiro ano de treinador também deixa alguma agua na boca e vontade de continuar o percurso. Mas quando decidi sair do Candal. tinha a perfeita noção que poderia estar bastante tempo sem treinar. Quem me conhece sabe perfeitamente que eu nunca irei ligar para um presidente de um clube a oferecer-me ou situação parecida. Não tenho feitio para isso. Portanto se tiver que estar mais um ou dois anos ou ate nem treinar mais, estou preparado para isso, ate porque felizmente não dependo do futebol para viver.
ABR - O que esperas este ano das equipas gaienses nos Campeonatos Nacionais?
Tozé - Do Coimbrões espero uma época sem sobressaltos na 2ª divisão, dado que manteve a mesma equipa e isso e fundamental em qualquer campeonato. Os jogadores, quando são bons, jogam bem em qualquer campeonato desde os distritais ate a 1ª liga, desde que tenham estrutura mental para isso. E o Coimbrões tem excelentes jogadores. O Candal e o Oliveira do Douro, neste momento não tenho dados que me permitam avaliar a possível prestação, porque não conheço os jogadores que vão fazer parte desses planteis ou a serie em que vão competir, o que também poderá ter grande influencia na classificação final.
ABR - Queres deixar alguma palavra aos adeptos e simpatizantes do futebol que te viram jogar e que aguardam pelo teu regresso ao mundo do futebol?
Tozé - Gostaria de deixar uma palavra de agradecimento a todos os que me continuam a apoiar. É fantástico sentir que já passou um ano depois da subida e ter tanta gente que não se esquece daquilo que fiz como treinador, e também do que fui como jogador. Isso, felizmente, sinto-o no dia a dia e em cada ida a um campo de futebol, o que me deixa orgulhoso.