25 de janeiro de 2007

25 de Janeiro de 2004....

Decorria o minuto 59 do jogo entre o Spot Lisboa e Benfica e o Vitória de Guimarães. Jogo vital para as aspirações do Benfica na luta pelo título. Camacho, na altura treinador do Benfica, retira João Pereira do terreno de jogo e faz entrar Fehér, na tentativa de desfazer o 0-0 que teimosamente resistia. Minuto 90. Jogada de relativo perígo dentro da área do Vitória com Fehér envolvido no lance. GOLO! Fernando Aguiar marcou o golo do Benfica, o golo que certamente vai dar a vitória encarnada. Minuto 91. Olegário Benquerença, árbitro da partida, mostra o cartão amarelo ao Fehér, já não me lembro bem porquê. Fehér rí... e cai.... Acabou-se... Implantou-se o desespero nos jogadores encarnados e vimaranenses, que assistiam incrédulos ao que se estava a passar. Vê-se Simão e Tiago a chorarem compulsivamente por perceberem que algo terrível está a acontecer.... Vê-se Camacho, vê-se Miguel, vê-se Hélder.... Vê-se todo o mundo presente no Estádio Afonso Henrriques a verterem lágrimas de pesar pelo que se estava a passar e pelo que se tinha vivido segundos antes. Os minutos que antecederam a chegada da ambulância pareciam horas... Nunca mais chegava. Fehér reagiu... lutou pela vida... Viu-se o esboço de alegria dos jogadores encarnados que logo contagiou os espectadores, que foram-se esquecendo que eram do Benfica e do Vitória e agora eram todos do Fehér.... Todos gritaram MIKLOS FEHÉR!!! MIKLOS FEHÉR!!! MIKLOS FEHÉR!!!! Mas em vão.. Fehér já não estava alí... O que lá estava era o seu corpo, pois o resto já tinha abandonado, ido para um sítio melhor, como mais tarde foi confirmado. O jogo acabou por alí e o Benfica ganhou.... Mas o que interssou isso? Tinha-se perdido uma vida. Este é o post que mais me está a custar escrever, por tudo aquilo que o envolve, por ser do meu clube, logo da minha familía, mas acíma de tudo por ser um jovem da minha idade, se hoje fôsse vivo, que morreu a fazer aquilo que mais gostava, e ainda por cima a rir... Que sorriso... Inesquecível... Força Fehér. Força Puto.

Miklos Fehér: A carreira.

Miklos Fehér, começou a jogar futebol no Rabat Eto, na cidade de Gyor, onde foi morar com os pais. Em três temporadas no plantel sénior do clube, o jogador somou 23 golos em 62 jogos, atraindo desde logo a atenção do departamento de prospecção do FC Porto. Fehér chegou a Portugal e ao FC Porto, com apenas 19 anos e muitos sonhos. O seu trajecto nos azuis e brancos resume-se a dez jogos e um golo, divididos pelas épocas de 98/99, época em que se sagraría campeão nacional, e 99/00. Para este estatuto, muito contribuiu a presença de Jardel no plantel portista, o que obrigou o jovem húngaro a procurar outras paragens. O seu destino foi o Salgueiros, clube que já em grandes dificuldades financeiras, procurava a permanência na I Divisão. E consegiu-o muito por culpa dos 5 golos que Miki apontou ao serviço do clube de Paranhos em 15 jogos que realizou. Na época seguinte regressou ao FC Porto, mas continuava a não ter muitas oportunidades e a solução foi novo empréstimo, desta vez ao Sp. Braga de Manuel Cajuda. Nesta nova etapa, Fehér arrancou o melhor momento da sua carreira cá em Portugal, efectuando 26 jogos e apontando 14 golos, ajudando o Braga a classificar-se na 4ª posição, melhor posição dos bracarenses desde 96/97, altura em que também foram quartos na tábela. Tão bom desempenho, despertou o interesse do FC Porto, que voltou a querê-lo nas suas fileiras, mas desta feita sob uma condição, que era a de Fehér deixar de ser representado por José Veiga. Fehér não aceitou e passou o seu último ano ao serviço dos azuis e brancos a vegetar na equipa b do clube, até que ficou lívre e assinou pelo Benfica. De águia ao peito, Fehér chegou mesmo a dizer que o Benfica era o melhor clube em Portugal. Em duas épocas de vermelho vestido, Fehér nunca foi titular indiscutível, mas estava a ganhar o seu espaço. Disputou 30 jogos e apontou 7 golos. O último encontro foi o de Guimarães, onde ainda teve mérito no golo apontado por Fernando Aguiar, desviando a bola para a entrada do médio defensivo. Deixou-nos com 24 anos e um sorriso que ainda hoje é imortalizado pela minha memória.

Depoimentos de Amigos e colegas de equipa

Camacho (Treinador do Benfica)*

"Estamos todos unidos, vamos tê-lo na memória toda a vida. Tenhamos cinco ou cem anos vamos recordá-lo para sempre, porque conviveu connosco e morreu subitamente".

"Sabemos que acontecem quedas, mas espera-se sempre que o jogador se levante, ou que dê um sinal. Mas quando passa tempo e nada acontece isso funciona contra. E quando deixa de respirar qualquer segundo conta. Na altura, vimos que não reagia, e pensámos logo que seria uma situação muito difícil para ele, como veio a acontecer"

Luís Filipe Vieira (Presidente do SL Benfica):*

"Numa altura em que a nossa instituição vive um momento particularmente difícil, para não dizer uma tragédia, agradecemos a todos os benfiquistas e a todas as pessoas que de Guimarães a Lisboa acompanharam o Miki. O Benfica perdeu um grande atleta e um grande homem, mas, mais importante, a família perdeu um bom filho e um grande homem também. O que este clube pode fazer, e vai fazer de certeza, é garantir que esta camisola com o número 29 ninguém a voltará a vestir".

José Mourinho ( treinador do FC Porto): *

"É um momento muito difícil, e expresso as minhas condolências à família, que é o mais importante nestas circunstâncias. À noiva, uma jovem que era quase, quase casada com Fehér, e aos pais, que tinham, no mínimo, um filho querido"

"Perdemos um elemento de grande qualidade futebolística e o sentimento não deve ser muito diferente daquele que se tem perante um pescador que morre no mar, ou de um mineiro que morre na mina: foi um jogador que morreu em campo, a fazer aquilo de que mais gostava. A prova de que esse sentimento é generalizado é que no nosso grupo temos jogadores que foram seus colegas, com um passado em comum e que eram seus amigos, e outros que praticamente não o conheciam, como era o meu caso, pois o nosso relacionamento pessoal foi quase nulo, com igual tristeza. No fundo, em momentos como este, não há muitas palavras, sente-se que uma vitória ou uma derrota não é tão importante como isso, e que há coisas muito mais importantes, como a vida dele."

"Hoje foi um dia diferente. Tínhamos os frigoríficos cheios de espumante porque o Nuno fez anos ontem, e eu faço hoje, e é óbvio que agora continuam cheios, porque nenhuma garrafa foi aberta. A alegria no trabalho nem de longe podia ser a mesma, estamos todos chocados e impotentes. Qualquer um de nós trocaria vitórias pela sua vida. Mas já conversámos no balneário, e chegámos à conclusão óbvia de que todos nós já perdemos pessoas importantes na nossa vida, familiares e amigos, e a vida continuou. Temos de continuar a treinar e a trabalhar e encontrar de novo os nossos objectivos"

Fernando Santos (Treinador do Sporting)*

"Perdeu-se uma vida jovem, de 24 anos. Agora importa ser solidário com a família, pai e mãe, que devem estar a viver um momento dramático. Deus permita que não me aconteça a mim, porque isso é que é dramático, perder um filho aos 24 anos. Foi isso que me chocou muito, mais que tudo o resto. Porque Fehér é como todos nós, era um bom rapaz, uma excelente pessoa e um profissional de futebol"

"Neste momento, mais que procurar culpados, porque parece que é sempre importante procurar alguma coisa, temos de guardar silêncio perante a morte. Pela minha parte já o fiz e vou continuar a fazer. E pedir pela alma dele, que o Senhor o receba nos braços, que o receba bem, proque acho que pela pessoa que era merece. E também pelos pais dele, que devem estar a sofrer horrores. Guardo este momento de dor e solidariedade com a família."

Manuel Cajuda (Treinador do Marítimo):*

"Quero e vou continuar a recordar os bons momentos que passei com o Fehér, a sua amizade, pois era um miúdo de 22 anos cheio de alegria quando estava no Braga"

"A partir de ontem, depois de ter visto duas ou três repetições daquela imagem, nunca mais a quis ver. Acho que me vou recusar a vê-la e de cada vez que a passarem vou desviar o olhar, porque quero manter a imagem do meu menino bonito, do meu menino de ouro daquela equipa de Braga."

"Toda a gente sabe da minha preferência por Fehér, da amizade que eu tinha com ele e que ele tinha comigo. Aquele momento desgraçado que aconteceu... Lamentavelmente, para um jovem, para uma criança cheia de vida e de talento... Amarga qualquer um. Ontem desliguei os telemóveis porque sabia que tinha de falar sobre aquele momento fatídico".

"Que me perdoem os ouvintes, vou falar à moda do povo: a puta da vida tem destas coisas."

Olegário Benquerença (Árbitro do Vit. Guimarães-SL Benfica)*

"O cartão amarelo foi absolutamente pacífico, não houve qualquer tipo de discussão. O cartão foi mostrado porque ele retardou o recomeço do jogo. Sorriu e caiu inanimado e daí a minha surpresa quando o vi cair. O sorriso e a forma como olhou para mim não faziam prever o que se passou a seguir".

"Nunca passei por nada assim. Nada se pode comparar com a perda de uma vida humana. Foi demasiado marcante e foi sobretudo triste ver o sofrimento e o desespero dos outros jogadores e dos que o tentavam salvar".

Nuno Gomes (Colega e amigo de Fehér no Benfica):**
"Eu não estava presente porque estava lesionado e não tinha sido convocado para o jogo. Estava em casa a ver o jogo e foi uma agonia muito grande. Senti o mesmo que a maior parte dos portugueses que estavam a assistir ao jogo: não queria acreditar que aquilo estava a acontecer e queria que aquela imagem não fosse real. Queria tentar perceber o que se passou, mas quando vi o Miki a cair percebi logo que algo de grave estava a acontecer. Fiquei nervoso. Ali diante da televisão senti-me impotente para poder fazer alguma coisa. Foi muito triste. Foram momentos em que sofri muito, pois estava em frente à televisão, apetecia-me e queria fazer alguma coisa e não conseguia."
"Entrei logo em contacto com pessoas do Benfica. Infelizmente veio a confirmar-se a morte e depois esperei pela equipa no estádio pois não podia ir para Guimarães. Ia falando muitas vezes com o Hélder, que na altura estava na equipa, com o Simão e com o próprio médico. Toda a gente chorava. Eu próprio chorava e não conseguíamos perceber o porquê. Aqueles momentos de espera no hospital foram agoniantes até se confirmar a morte do Fehér."
"O mais difícil naquela altura foi termos de continuar o nosso dia-a-dia sem a presença do Miki, pelos motivos que foram. Continuar a viver sabendo que já não íamos mais ter o Miki por perto. Nos dias depois foram todas as questões que pairaram sobre nós. Se ele estava em condições de jogar futebol porque é que aquilo tinha acontecido? S aconteceu a ele pode acontecer a qualquer um de nós? Ficou ali aquele trauma de que podia acontecer a qualquer um. Aquela situação foi difícil de ultrapassar».

Algumas fotos





Homenagem do Site Maisfutebol

Página Oficíal do Jogador
Vídeo de Homenagem

Imagem Imortal
"A alegria dele. O sorriso. Ele era introvertido, mas tinha as suas brincadeiras. Aquele sorriso é marcante e era o sorriso que ele tinha diariamente em algumas brincadeiras. Também me lembro da maneira como ele festejava os golos, mas aquele sorriso é marcante."
Simão Sabrosa (Capitão do Benfica)**
* Declarações retiradas do Site Maisfutebol
** Declarações retiradas do Site Zerozero.pt

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